Nos dias atuais, na chamada sociedade da informação, a perspectiva de formação para a cidadania só pode se concretizar se houver a possibilidade de acesso e uso de diferentes mídias e se a relação dos sujeitos com os discursos produzidos a partir de diferentes linguagens e suportados por essas mídias, não for de passividade. Isso requer ações complementares e articuladas. Uma primeira ação diz respeito a possibilitar conhecimentos técnicos/operacionais para utilização dessas mídias. Assim, no que se refere, por exemplo, à informática, trata-se de ensinar conhecimentos básicos sobre computadores, usos de aplicativos e programas de edição de texto, planilhas, apresentações, procedimentos para navegação na Internet, etc. Não se quer que os alunos saibam apenas operar a máquina, mas que possam com as informações disponibilizadas na rede efetivamente se inserir nas práticas sociais que se realizam nesse mundo digital.
Outra ação é promover condições para que o aluno possa participar do mundo digital. Na perspectiva do ideal de uma sociedade mais justa e igualitária, o letramento digital deve ser uma meta a ser perseguida e a escola deve ter um papel essencial nesse processo. A importação do conceito de letramento dos estudos sobre escrita não poderia ser mais feliz e adequada a esse contexto, pois a questão não é apenas ensinar os alunos a utilizarem as ferramentas e ou programas no sentido do seu domínio técnico de funcionamento, isto equivaleria a uma certa aprendizagem do código, à alfabetização no sentido mais restrito do termo. Trata-se de possibilitar que os alunos participem dessas práticas letradas do mundo digital, dominem gêneros que nele circulam, aprendam a utilizar os espaços virtuais e lidar com os tempos síncronos e assíncronos de comunicação, bem como com os hipertextos e hipermídias.
É necessário desenvolver nos nossos alunos, partindo do letramento digital, capacidades de compreensão que transcendam a busca do entendimento do texto e que impliquem a possibilidade de que eles construam réplicas (Bakthin) em relação ao que lêem e ouvem, refutando, concordando, complementando, questionando, surpreendendo-se, dentre outra ações lingüísticas possíveis.
Todas estas questões implicam em um trabalho com diferentes capacidades de leitura, sejam elas verbais ou não, que devem ser colocadas em relação.
Ligada a ação citada acima, está a necessidade de possibilitar uma reflexão crítica por parte dos alunos sobre estas mídias. Mais do que se utilizar dessas mídias e linguagens, é importante sua tematização como objeto de análise. Nessa perspectiva, é preciso que a escola problematize e envolva esse objeto no contexto de produção dos usos das mesmas e devem estar previstas no projeto político pedagógico e nos planos de ensino das várias disciplinas.
O ideal que tudo isto aconteça de forma articulada e desenvolva uma postura crítica em relação aos conteúdos veiculados nas mídias.
Referências
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal (Trad. M. E. G.). São Paulo: Martins Fontes, 1992.
Soares, Magda B. Letramento: Um Tema em Três Gêneros. Belo
Horizonte: Autêntica, 1998.
http://www.ufpe.br/nehte/artigos/Letramento%20digital%20e%20ensino.pdf